Interessantes


O que é interessante... ao menos para mim.
Espero que seja interessante para você, mas se não for...

Dica: As crônicas de Nárnia



As Crônicas de Nárnia, apresentam, geralmente, as aventuras de crianças que desempenham um papel central, que descobrem o ficcional Reino de Nárnia, um lugar onde a magia é corriqueira, os animais falam e ocorrem batalhas entre o bem e o mal. Em todos os livros (com exceção de O Cavalo e seu Menino) os personagens principais são crianças de nosso mundo, que são magicamente transportadas para Nárnia, onde são ajudados e instruidos pelo leão falante conhecido como Aslam (ou mesmo Aslan dependendo da tradução).

Quando eu li Nárnia, descobri que livros infanto juvenis podem sim passar mensagens bíblicas sem tocar no assunto diretamente. Mais ainda, aprendi a entender estas mensagens pelo olhar singelo de C. S. Lewis, que, para mim, é um dos maiores mestres da literatura fantástica do século passado. Suas obras são divisores de água nas vidas de muita gente.


Por: Kaio Rodrigues

Final Alternativo de Chapeuzinho Vermelho




Dica: No Limite da Amizade

Eu não entendo estes sentimentos todos... É uma coisa que eu, não consigo explicar...
Ontem, ele me beijou no banheiro da escola, uma coisa não tão comum quanto se parece. Afinal, não é nada educado um homem entrar no banheiro feminino.
Ele me disse que não podia mais aguentar, se segurar, e queria algo além de nossa forte amizade... Eu fiquei constrangida, sem saber o que dizer... Saí correndo do banheiro e fui depressa para a minha sala de aula. Ele não se atreveu a entrar, apenas disse que queria falar comigo depois da aula. Eu concordei e ele se foi.
Eu estava me sentindo muito estranha e ao mesmo tempo, feliz. Estranha em ter beijado um quase irmão pra mim, e feliz por saber dos seus sentimentos por mim. Adonnes era um garoto realmente bonito e extremamente simpático. Conhecemos-nos a pouco mais de um ano, num evento cultural que havia na cidade. Naquela época, eu realmente havia me interessado por ele, porém, ele tinha uma namorada. Então, nos tornamos conhecidos, depois colegas, amigos e enfim nasceu uma grande amizade entre nós.
Ele terminou o seu romance há alguns meses, ele me disse que ela o havia enganado, mostrado a ele que ela era outra pessoa, que ele não conhecia.
Isso acontece, ghàs vezes... Nós nunca conhecemos tão bem uma pessoa. Mas é claro, toda regra há exceções. E minha amizade com Adonnes era esta exceção.
Minha confusão se foi. Eu realmente queria subir mais um nível neste relacionamento. Um namoro. Quem sabe...?
Eu sempre sonhava com ele... Com seu sorriso e seu carisma. Seu rosto fino e delicado, seus olhos cor de mel, seus cabelos negros e sua voz suave. Mas eu o via só como um amigo... Agora, depois do que ele disse, um sentimento acordou dentro de mim.
O sinal da saída tocou e aquele beijo que ele me deu não saía do meu pensamento. Quando o vi me esperando no portão do colégio, meu peito queimou, e fui ao encontro dele.
- Já que amanhã não tem aula Andressa, gostaria que você fosse lá em casa. Assim, poderemos nos entender melhor.  -Adonnes dizia isso num tom de voz muito calmo. - Não se esqueça. Amanhã, às dez horas, na minha casa.
Confirmei com a cabeça e nos despedimos com um abraço. Só com um abraço.
Hoje, é o dia de colocarmos os pingos nos is.
Adonnes me esperava em frente à sua casa com um brilho no olhar. Seu rosto resplandecia de alegria.
- Que bom que você veio. Por favor, entre. Sinta-se a vontade.
Sentamos no sofá da sala. Uma sala grande e bem decorada. Já tinha ido diversas vezes a casa dele, mas desta vez, havia alguma coisa estranha naquele ambiente...
- Onde está a sua mãe?
-Ela saiu. Foi visitar uma tia minha e só volta à noite.
Suspeitei. Estávamos a sós. Sinal de perigo. Nunca tínhamos ficado sozinhos na casa dele. E aquilo me incomodava.
Então, Adonnes começou a falar. Dizia que estava apaixonado por mim, que cultivava este amor depois que nos conhecemos. E que quando terminou com sua ex-namorada, só pensava em mim. Ele fez uma verdadeira declaração de amor. Fiquei impressionada. Eu já esperava algo assim, parecido, mas ele me surpreendeu. Até que veio uma pergunta fatal:
-Andressa... Quer namorar comigo?
Aquilo caiu em cima de mim como uma bomba atômica. Eu pensei que seria mais fácil ouvir aquelas palavras, mas não foi. Vieram-me então diversos pensamentos. E se não desse certo? E se estragasse a nossa amizade? E se eu magoá-lo? Machucá-lo? Fiquei extremamente confusa! O que dizer? Eu sinto um amor fraterno ou romântico por Adonnes?
- Preciso pensar...
- Pensar pra quê, querida? Apenas diga que sim.
- Mas eu não tenho certeza...
- Não tem certeza...? Hum... Sei. Existe outro cara que você está gostando, por acaso?
- Não é nada disso, Adonnes... Só estou com medo. Medo de não dar certo. Uma amizade virar namoro. E se nos magoarmos?
- Garanto que isso não irá acontecer. E nosso namoro, se não der certo, não estragará a nossa amizade, disso eu tenho certeza.
- Ok. Tudo bem. Mas mesmo assim... Preciso de um tempo para analisar a situação.
- Ouça-me, Andressa. Eu gosto muito de você... Não! Eu te amo! Estou apaixonado por você! Quer mais prova de amor do que estas palavras? Diga-me que eu faço! - o tom de voz de Adonnes mudou. Ele parecia inquieto, desesperado em ouvir minha resposta. Ele estava muito estranho. Diante daquela postura, me calei e o observei com atenção.
- Eu dou tudo o que você quiser! Diga-me! O que quer? Joias? Dinheiro? Roupas? Passeios? Peça qualquer coisa que eu te darei! -Seu olhar pacífico se transformou num oceano com vastas ondas. Ondas turbulentas. Ondas violentas.
Ele começou a ficar impaciente. Eu conhecia pouco deste lado de sua personalidade. Da última vez que o vi assim, foi quando sua ex esqueceu-se de avisá-lo que estava indo viajar para outro estado. Quando ela voltou, eles discutiram.
Adonnes me segurou pelo braço, suavemente e começou a me beijar.
- Você não me quer? Diga que não quer este corpo aqui. Eu te desejo! Sonho com você todas as noites. E eu te quero!
O quê? Adonnes me beijava e me agarrava, passeava com seus lábios pelo meu pescoço e me alisava. Ele estava louco? Onde estava todo aquele respeito? Sentia-me abusada. Ele queria me possuir, me ter como um troféu, seu prêmio. Afastei-me dele e fiquei em pé.
- Eu não quero nada! Não vai me deixar pensar? Então essa é a minha resposta! Que abuso, Adonnes! Que atrevimento! - Eu estava escondendo o meu medo, minha insegurança, naquele momento tentei ser o mais firme possível.
- O que houve queridinha? Pensei que me desejava também... Tudo bem. Deixarei você pensar por alguns instantes... Enquanto isso eu vou ali ao meu quarto e já volto. - Um sorriso de malícia surgiu em seus lábios e Adonnes se afastou e saiu da sala.
Puxa vida... E agora? Eu não sabia o que dizer, não conseguia nem pensar direito. A única coisa que passava pela minha cabeça era a ideia de ir embora. Ai não... Adonnes havia trancado o portão... Estou prisioneira neste calabouço? O muro era muito alto, que droga... Nunca fui fã de educação física, e eu não tenho tanta audácia para pular qualquer muro. Como eu poderia sair daqui sem deixá-lo nervoso? Precisava inventar alguma desculpa... E depressa!
- Andressa! Andressa! - Sua voz cantarolava o meu nome. Ele estava armando alguma.
- O-oi... - respondi insegura. O leão estava se aproximando para abocanhar sua presa. Engoli em seco quando vi aquela imagem.
Adonnes estava seminu. De cueca vermelha e me encarando com intensidade. Seu corpo era lindo, admito. Um falso magro com os músculos pré-definidos. Sua pele branca era mais clara nas partes ocultas pelas roupas. Ele passou as mãos pelos cabelos lisos e negros e colocou as mãos na cintura.
- O que faz no quintal, Andressa? Procurando algo?
- Estava pensando aqui... Olhando para o céu, sabe...?
- Você fica tão linda quando mente... Seus olhos castanhos reviram-se e seu rosto fica rosado. Adoro isso. Vamos! Responda minha pergunta. Seja minha namorada e começaremos este relacionamento em grande estilo!
Meu Deus! O que ele tá pensando? Que pecado! Que falta de moral! Cadê a castidade nisso tudo? Sou de uma família cristã! Apesar de eu não ser lá essas coisas... E tem as minhas "ficadas" na escola... Mas isso era demais! É o cúmulo do absurdo! Sexo?! Antes do casamento?! Eu não podia acreditar... Os relacionamentos anteriores de Adonnes possuíam tal ato? Ele nunca me contara nada sobre isso! Ele mentia para não discordar comigo? Ele sempre dizia que só faria amor quando encontrasse sua alma gêmea, com aliança no dedo... Nunca por diversão! Eu fiquei embasbacada.
- Eu tranquei as duas saídas para a rua existentes nesta casa... Você está sozinha comigo... Nós dois... E você será minha. Quero você, Andressa. Agora!
Eu segurava as minhas lágrimas que tentavam escapar dos meus olhos. Ele queria se aproveitar de mim? Quem era aquela criatura? Aquela simpatia que eu admirava nele se desfez. A sua beleza estonteante se tornou feiura. Não era o Adonnes que eu conhecia na minha frente, mas alguém dominado pelo desejo da cobiça.
Ele me chamou gentilmente. Eu não poderia resistir. Ele é mais forte, mais alto, e está no controle. O jeito era entrar no jogo do inimigo. E esperar um milagre, ou um jeito de sair dali. O acompanhei até seu quarto. Ele se deitou na cama e pediu que eu respondesse a tal pergunta.
- Tudo bem, Adonnes. Já que você insiste. Aceito ser sua namorada. Só me dê uns instantes para eu tirar minha roupa... Onde fica o banheiro?
- No final do corredor. Não demore. Quero comemorar minha conquista.
Conquista? Estava certa! Eu era o troféu! Algum tipo de aposta que ele deve ter feito com seus amigos babacas. Pensava em gritar, a plenos pulmões. Mas isso mancharia a minha imagem e a dele. Todos os vizinhos me conheciam. A melhor amiga do "Donnes". O jeito era fingir... Botar o meu lado atriz em prática e quem sabe, escapar. Mas eu precisava de uma coisa... Onde será que Adonnes escondeu as chaves do portão?
Eu estava envergonhada... De calcinha e sutiã. Demorei um pouco para voltar ao quarto dele, pois eu estava vasculhando a casa. Não encontrei as chaves da minha salvação. E Adonnes estava sentado na beirada da cama me esperando...
- Você é tão linda. Seu corpo é tão perfeito. Sempre o quis. Sempre. Permita-me começar o nosso momento romântico...
Ele colocou suas mãos na minha cintura e começou a beijar minha barriga e desbravar minhas curvas com seus lábios. Eu não estava sentindo prazer, muito pelo contrário, muita repulsa. Parecia um animal a me lamber, um vira-lata que não se alimentava há dias. Que merda... Comecei a acariciar seus cabelos, para que ele não pensasse que eu não estava gostando...
Visualizei o seu quarto... As chaves não estavam em nenhum lugar aparente.
Adonnes me jogou na cama. E já queria me despir completamente. Eu o interrompi.
-Espera! Aproveita mais um pouco... E pode deixar que eu mesma tiro minhas peças íntimas.
Tô num abismo sem ponte! Ele realmente vai querer sexo! Se eu o empurrasse, batesse, não iria adiantar, pois se eu fizesse isso, continuaria trancada.
Deitada de costas na cama, Adonnes se pôs de joelho e se despiu... Que droga! Ele estava nu na minha frente! E "animado" ainda por cima. Que medo! Mas... Espera aí... Havia algo reluzente na cueca que ele acabara de tirar... Não acredito! As chaves estavam lá! Minha chance de fuga...
Levantei e fiquei de pé na cama. O chutei de brincadeira e o joguei de bruços nela. Eu estava bancando a "policial malvada"... Que ridículo.
- Uohoho! Andressa! Não conhecia este seu lado malvado! Miau, meu amor!
Colocando o pé na cabeça dele, eu disse:
- Você agora é o meu prisioneiro queridinho... Você quer sexo? Quer fazer amor? Prepare-se para ir às alturas com esta malvada aqui!
-É assim que eu gosto! Vamos lá, meu bem! Castigue-me! Tem umas cordas em baixo da minha cama. Amarra-me, vai! Vamos deixar isso aqui divertido.
Não acredito! Ele realmente queria que eu o amarrasse? Minha chance. Nem deve ter passado pela cabeça dele as minhas verdadeiras intenções. Peguei as cordas, ele ficou de costas na cama, e eu o amarrei. Seus pulsos em cada lado da cabeceira. Seu olhar era de prazer. E ele estava esperando que eu começasse. Que confabulasse com sua fantasia doentia...
Daí, vesti toda a minha roupa.
- O que está fazendo, Andressa?
- Não ficaria mais excitante com um showzinho de "strip-tease"?
- Opa! Mas é claro! Vamos! Comece!
Disfarçadamente peguei a cueca dele e a escondendo nas minhas costas peguei a chave. Joguei a cueca em sua direção. Ele, num urro de alegria e energia, começou a se remexer na cama, impossibilitado de movimentar as mãos.
- Andressa, começa logo! Estou doidinho!
Que cego! Olha só o que o prazer da carne faz com uma pessoa... Eu estava a um passo da minha liberdade. Era só sair de lá sem que ele o notasse. Aproximei-me dele e beijei sua testa.
- Espera só um pouquinho, Adonnes. Eu vou ali pegar um som para colocar uma música para nos animar, beleza? Onde posso encontrá-lo?
- O meu celular tem mp3 e tá na sala, em cima da mesa de centro. Pega ele e põe no alto-falante!
- Tudo bem, amorzinho... Volto já.
Saindo do quarto dele e passando pela cozinha, logo depois pela sala, fui ao encontro do quintal e ao portão. Procurando a chave certa naquele molho, testei algumas no portão e consegui destrancá-lo. Voltando até o quarto dele, decidi jogar umas verdades na sua cara.
Mas... Ele havia se soltado.
Como? Ouvi uma porta fechando. E Adonnes surgira atrás de mim... Vestindo suas calças jeans e me encarando com desprezo...
- Que bonito, hein? Tentando fugir... Pensa que eu não vi você olhando para a minha cueca, doida para pegar as chaves? Eu não sou tonto, Andressinha. Agora, você não sai mais daqui. Se não quer fazer por bem... Irá fazer por mal!
Ele tá falando de estupro?! Eu to no sal!
Adonnes me agarrou com violência. E me sacudiu como se eu fosse uma boneca de pano. Falava com voz alta e alterada.
- TIRA LOGO A SUA ROUPA!
-NÃO! SEU MALUCO PERVERTIDO! EU NÃO VOU TIRAR! E EU NÃO TE QUERO! VOCÊ É LOUCO!
-O que houve com você, garota? Pensei que você tinha uma queda por mim!
-Essa queda não existe mais! Por você eu não caio nem com rasteira!- e continuei- O que aconteceu, Adonnes? Ama-me tanto assim que me quer de qualquer jeito? E ainda assim? Desrespeitando-me? QUEM É VOCÊ?
- Apenas me obedeça... E ficará tudo bem...
- O quê? Você acha mesmo que eu vou perder minha pureza desta forma? Eu sou cristã, meu filho! E sem aliança no dedo, nada feito meu bem!
Adonnes me segurou pelo braço.
- Eu te quero...  E EU VOU TE TER... AGORA! VOCÊ É MINHA!
A adrenalina tomou conta do meu corpo, e sem nem pestanejar, chutei a parte mais vulnerável do homem, bem entre as pernas, ele gemeu e caiu no chão, contorcendo-se de dor. Pulei a janela do quarto como uma ninja e fui de encontro ao portão. Lá dentro, Adonnes soltou um grito que me apavorou:
- Amanhã tem aula, Andressa! E amanhã... Você não me escapa!!!
OUVIU??!
Aquelas palavras chegaram ao meu ouvido como um tsunami, arrasador, destruidor. Estremeci nas bases, gelei, mal conseguia caminhar. Livrei-me das chaves de sua casa. Reuni forças e saí correndo a todo vapor para um lugar seguro. Mas que coisa... O que eu iria fazer? Como eu iria fugir? Adonnes, de agora em diante, era o pior psicopata que poderia existir. E eu era a sua caça. Sua vítima predileta. O seu próximo alvo. Preciso de um plano... Urgente!
Amanheceu. O sol surgiu espreguiçando no horizonte.  Acordei como se tivesse apanhado muito. Meu corpo estava realmente dolorido e eu não conseguia me levantar da cama. Talvez o medo e a aflição continuassem na minha mente... Talvez não, eles continuavam sim!
O dia de ontem foi horrível, aqueles momentos com Adonnes foram um filme de terror! Era quinta-feira... Decidi ficar em casa.
Adonnes tinha ficado enviando mensagens para o meu celular, com um tom de ameaça, eu acho... "Com medo de mim, princesa? Sorte a sua de eu não poder matar aula!" Ele não faltava às aulas para ter um histórico escolar perfeito, frescura de família, e ele achava a coisa mais normal do mundo.
Eu falei para minha mãe que estava passando mal e que se à tarde, Adonnes aparecesse, dela dizer que eu tinha saído com as minhas amigas para algum lugar, shopping, sei lá... Ela concordou e não me indagou. Mas eu não fiquei tranquila, ele realmente poderia aparecer, e querer me esperar... Droga! Liguei para a minha melhor amiga, para que depois da escola ela viesse aqui pra casa.
-Andressa! Que babado mais "lombrado"!
-Né?!
-Nunca que eu poderia imaginar isso do Adonnes... Quer dizer... Talvez só um pouquinho. Mas não chegava a tanto! Ele é um santo!
- Mas que se revelou um safadão, Athena! Um safadão! Vê se pode uma coisa dessas?!
- Eu imagino a sua dor... Conhece ele há um tempão, amigona mesmo! E ele nem pra deixar você perceber seu lado mal! Que malz!
-Aí você também quer!
-Né!?
- Poxa, Atheninha... Perdi meu melhor amiguinho... Agora ele quer é me pegar! Trágico!
- Temos que pensar em alguma coisa, Andressa.
Athena era a minha melhor amiga, descolada, descontraída, divertida, falava o que pensava. Bonita, de olhos castanhos escuros e de cabelos negros com mechas azuis. Sua pele morena era bem cuidada e ajudava a destacar suas eternas pulseiras coloridas.
A conheci antes do Adonnes. Pelo menos nela eu podia confiar. Ela levantou, passeou pelo meu quarto, olhou para as paredes, para a janela, para fora. Minha casa era um sobrado e meu quarto era em cima, dava pra ver direitinho o movimento da rua. Ela olhou pra mim.
-Andressa, será que ele sempre foi um pervertidão, assim?
-Acho que não... Ou sim? Ele não me contava quase nada da vida pessoal dele! Eu só o considerava muito sabe! Só sei de algumas coisas...
-Hum... Eu já ouvi umas conversas deste naipe na escola... A Kátia e a Samanta comentavam dele, que ele tinha uma boa pegada, que ele era safadinho...
-Sério?!
Fiquei chocada!
-Sim, sim... Mas elas disseram que nunca mais sairiam com ele, pois ele é muito "rodado", pega todas e não tá nem aí pro sentimento alheio.
-Aquelas piriguetes que de vez em quando andam com a gente?! Kátia e Samanta... Jesus Amado... Que pecado!
-Acho que até as doninhas que ele ficou ele também já fez "créu"!
Adonnes realmente era um homem sem moral. Um garoto depravado... Ah! Um taradão otário! Cheio de lábia! Aquele cachorro! Geeeente! Que raiva daquele menino! Como eu pude ser tão cega?
Ouvi a voz da minha mãe chamando, ela veio até meu quarto e disse que Adonnes estava no portão, e que queria falar comigo.
-Ih, mãe! Não! Pode parar e despachar ele logo! A gente brigou tá bom?!
-Que pena! Um rapaz tão bonzinho! Trouxe até flores!
Flores?! Rosas vermelhas estavam nas mãos da minha mãe... Adorava rosas vermelhas... Não pude negar e aceitei o presente. Mas mesmo assim pedi que ela o mandasse embora.
- A dona Vera disse a ele que guardaria às flores?
-Acho que vai dizer.
Athena e eu decidimos espiar o Adonnes da janela do meu quarto. Conseguimos até ouvir um pouco de sua voz.
-Então tá ok dona Vera. Só queria me desculpar mesmo. Promete que vai entregar o buquê pra ela, tá bom? Tchau!
- "Rosas de perdão". Que tosco. -disse Athena.
Peguei o bilhete no buquê e li em meia-voz: "-Eu sei que está em casa, moça. Não pense que não quero você. Agora, depois deste charme todo, você não me escapa! Beijinhos!"
-Ai, Athena! Tô no sal!
- Vixi, amiga. Temos que arquitetar um plano viu?!
Passamos a tarde conversando, tentando encontrar um jeito de sair daquela situação. Amanhã é sexta. E eu não posso me dar ao luxo de faltar à escola de novo. Tinha que resolver logo isso! Mas claro, não seria as escondidas, teria que ser num local aberto... O pátio da escola, no intervalo, parecia perfeito.
Sexta-feira, que merda! Costumava ser um dia feliz, mas hoje, parece um dia meio fúnebre. Levantei derrotada da cama, não tomei café, não consegui.
Saí.
Eu estava de toca, casaco e rayban e disfarçava o andado, caso o Adonnes me visse para não me reconhecer... Que cúmulo! Deixei meu celular desligado e desbravei manhã adentro.
A caminhada não era tão cansativa, me ajudava a pensar, eu chegaria ao meu destino dentro de uns vinte minutos. Numa esquina próxima ao colégio, Athena estava a minha espera. Suas mechas azuladas em seus cabelos pretos brilhavam de longe. Seus eternos jeans e os sempre fiéis allstar vermelhos chamavam atenção. Suas pulseiras coloridas balançaram quando ela acenou para mim.
- Pensei que deveríamos ser discretas. -disse eu.
- Você que é a vítima, amiga! Eu não preciso me moldar ao disfarce... Se bem que você tá chamando mais atenção do que eu... Hehehe!
Verdade. Andar com um rayban já não é lá tão discreto, imagina com um casaco e toca de bandido? Ai, meu Pai!
Fomos então, para o nosso destino... A morte! Chegando próximas a escola, lá estava ele, de tocaia no portão de entrada, ME ESPERANDO. Athena me olhou, olhou para ele e disse:
-Eu já imaginava isso, Andressa! Ontem ele ficou ali também! Quando eu o vi eu pensei: "Gente?! Quem ele tá esperando? Que cara de mau! Cadê a Andressa?" Aí você me contou todo o caso e eu entendi! Vamos entrar por ali, ó!
 O portão da garagem estava entreaberto. Restrito a professores e funcionários, podíamos nos esgueirar por lá? Era a minha única escolha, se quisesse assistir aula.
Miudinho fomos para a lateral dos muros, Adonnes ficaria num ponto cego, incapaz de nos ver. Entramos no estacionamento e com muita dificuldade pulamos as grades para dentro do colégio. Apressadamente nos dirigimos para a sala de aula, sentei no fundo, bem no canto do lado da porta. Athena sentou na carteira do lado e esperamos o sinal tocar.
Tocou.
Os alunos tomaram seus lugares. Athena me alertou quando viu Adonnes passando pelo corredor.
-Abaixa a cabeça, amiga!
Ele enfiou sua cabeça na sala e me procurou. Não me reconhecendo, saiu.
-Viu como era uma boa ideia vir de toca e casaco? Eu sou um gênio! Igual o significado do meu nome: Athena! A deusa da sabedoria e táticas de guerra! Sabedoria! É!
Sorri.
O tempo parecia que não passava. O nervosismo me fez passar mal. Fui às pressas ao banheiro. Vomitei. Depois da dor e do nojo pelo feito, caí em prantos e comecei a chorar. Encostada na pia e chorando de nervosismo, pensei: "O que fazer?" Uma voz familiar chamou meu nome fora do banheiro.
-Andressa?!
-Hã?! Filipe?!
Filipe... Eu não o conhecia muito bem, mas o achava simpático. Ruivo com algumas sardas, de boa aparência, cabelo espetado e olhos pretos. O que eu sabia sobre ele é que era inteligente, esportista e que conhecia Adonnes... Há mais tempo que eu. Saí do banheiro, o encarei, mas como estava sem chão, joguei-me em seus braços. Ele tremeu. Mas me acolheu. E me afagou.
-Tudo bem, tudo bem, vai passar...
Sua voz era serena, quase angelical, e me confortou.
Decidimos matar o terceiro horário e o chamei para conversar. Mesmo não o conhecendo direito, ele me transmitia muita confiança. Contei tudo que tinha me acontecido a ele.
-Sabe Andressa... Eu não sou tão amigo do Adonnes como você pensa... Mas o conheço o suficiente para poder te dizer uma coisa...
- O quê?
- ELE NÃO PRESTA!
Emudeci.
-Sabe... Eu e a galerinha às vezes nos reunimos, vamos para as baladas, festinhas, shows... E Adonnes sempre está com a gente. Contando vantagem, se exibindo e tal. Ele terminou com a ex por que ela não queria mais ser um brinquedinho. Ela sofria era muito nas mãos do Adonnes. - ele suspirou, olhou os arredores e continuou- E todos achavam você uma gata e botaram pressão nele pra te pegar, ele adorou a ideia. Não pense que participei destes comentários sobre você.
- Tudo bem... Não pensei. Já que está me confidenciando isso.
-Ele queria e quer você, como um troféu, um prêmio... Sei lá.
-Era isso que eu imaginava Filipe... Aquele cachorro!
- Ele só te enganou. Fez-te confiar nele para tentar isso. Mas graças a Deus que você é esperta!
-Né?!
- Valeu por ter confiado em mim, Andressa. Mas não irei te ajudar com ele. Este assunto é seu. Não posso me arriscar.
Olhei Filipe com espanto e pensei que ele era um cagão medroso... Mas beleza. Talvez ele respeitasse Adonnes e não quisesse manchar sua imagem diante dele. Tudo bem. Eu posso aceitar isso e meu coração continuará aberto.
Ele se afastou. O sinal do intervalo tocou.
Athena correu ao meu encontro, com aquela expressão de aflição.
- Amiga! É agora! Já falei com a Kátia e com a Samanta, elas ficarão por perto, qualquer coisa, a gente parte pro arranca-rabo!
Essas duas garotas, segundo Athena, ficaram com Adonnes, ele as conquistou e depois as descartou como lixo. Fiquei chocada. Quando eu as avistei, pude ver o brilho de vingança em seus olhos. Athena contou pra elas o ocorrido comigo, não discuti. Filipe estava observando de longe. As meninas se aproximaram de mim, Adonnes chegou.
- Oi, Kátia. Oi, Samanta. Tudo bom? Deem-me licença, quero conversar A SÓS com essa garotinha aqui.
- Nós não iremos sair Adonnes.
-Athena! Nem te vi! Você por aqui?
- Não! Estou ali ó, seu otário!
O sarcasmo de Athena era o máximo.
-Vi que já fofocou pra essas piriguetes sobre o ocorrido, Andressinha. Esquece elas, vem comigo, precisamos conversar.
- Na frente delas, querido! Elas já não sabem? Não vejo problema!
Os olhos de Adonnes reviraram, e ele fitou as garotas com total desdém. E lá foi ele começar de novo, a mesma ladainha de antes. Disse que me amava que daria tudo pra mim, se desculpou e tal, pediu um recomeço na amizade. Não vi um pingo de sinceridade no que ele disse e falei com as meninas:
- Ele tá mentindo, não é?
- Sem dúvida! - disse a Kátia.
- Tenho certeza disso! - falou Samanta.
- Amiga, ele é um otário! Vamos embora e não dê mais bola pra ele não!
Segui o conselho de Athena. Fomos saindo. Mas quando dei as costas a ele, Adonnes agarrou meu braço, me puxou e me agarrou. Começou a me beijar com selvageria e a alisar meu corpo. Constrangida e com a cabeça estourando, desci um tapa na sua cara. O estalo foi tão alto que ecoou pelo pátio do colégio. Ele voltou o seu olhar amarelado para mim e de relance...
Recebi um soco certeiro no meu rosto. Caí sentada. Todos ao redor pararam para olhar, gemi de dor, as garotas avançaram nele, como éguas violentas e indomadas.
- CALMA MENINAS! ELA QUE COMEÇOU!
-COVARDE IMBECIL!!! -Urrou Athena.
Vi uma luta um tanto estranha. As meninas começaram estapeando ele e depois o derrubaram com força no chão.  E então se deu início a vários chutes e pontapés no Adonnes, sem parar. Athena, louca do jeito que é, pegou impulso, deu um salto e caiu de cotovelo bem nas costas dele. Adonnes gemeu de dor. Todos os alunos ao redor estavam eufóricos e gritavam por mais violência.
O sinal tocou. Na minha escola, e acho que nas outras não é tão diferente assim, o que acontece no intervalo, fica no intervalo. Num piscar de olhos, todos já correram para as suas respectivas salas. As meninas me levantaram e me levaram para o banheiro, para que eu pudesse lavar meu rosto e cuidar do inchaço do soco do idiota do Adonnes. Ele, porém, em meio a grunhidos de muita dor, se ergueu, tentou se recuperar e mancando foi para a sua turma.
Sentei na minha carteira na minha sala de aula. Todos olharam para mim com aquele olhar de pena. "Olha a cara dela... Vixi! Tadinha da Andressa!". Fiquei com aquela sensação de quem está sendo observada. Não me importei. Liguei meu celular. Uma mensagem do Adonnes.
"Adorei apanhar das meninas, foi sublime, quero fazer isso na cama, com você e Athena. Não pense que se livrou de mim, agora tenho mais fôlego. E vocês duas agora, serão minhas preciosas caças... Querem namorar comigo!? Kkkkkkk!!"
Mostrei a mensagem para a Athena e concluímos:
ADONNES ESTAVA LOUCO!
E agora, mais do que nunca. Precisamos de um novo plano! Um plano B!
FIM DA SEGUNDA PARTE
Eu estava fugindo desesperadamente! Ele estava me perseguindo! Eu ouvia seus passos claramente, apressados, pesados e furiosos! Adonnes estava atrás de mim! E eu só sabia que eu precisava fugir e correr com todas as minhas forças! O suor escorria pelo meu rosto, e caiam como gotas de chuva por terra. Olhei para trás rapidamente e o perdi de vista. Onde ele foi parar?
Ao passar por um beco, próximo a escola, vi Athena no chão, desfalecida, degolada, gritei horrorizada. A lua gemia com seu brilho fosco no céu. Adonnes me encontrou, e gritou de longe:
- É A SUA VEZ, ANDRESSA!
De repente tudo se fechou, quando olhei para o lado ele se jogou em cima de mim. Caí num baque. Ele começou a rasgar minha roupa e a me tocar, suspirando ferozmente, subindo e descendo com sua boca carnívora pelo meu colo. Sem pestanejar, atingi-o com uma faca na jugular de seu pescoço. A arma surgira do nada na minha mão direita, ele caiu morto a minha esquerda e eu, cheia de sangue... Soltei um grito de pavor. E lágrimas escorreram pelos meus olhos.
Num susto, despertei.
Um pesadelo. Odeio pesadelos. Quem não odeia? Puxa... Aquela facada parecia tão real, pude até sentir o calor do sangue de Adonnes escorrendo pela minha mão. Que sinistro... Estou amedrontada.
Levantei-me, fui ao banheiro e lavei o rosto. Olhei-me no espelho. A maçã esquerda do meu rosto ainda estava arroxeada e levemente dolorida... Adonnes, aquele garoto. Aquele soco. O duro foi dizer pra minha mãe que eu tropecei e caí. "De cara no chão, minha filha?" - disse ela.
Cinco da manhã. Sábado. Perdi o sono. Sentei na minha cama e abracei meu travesseiro. Comecei então, a refletir. Quando o conheci naquele evento, ele parecia inofensivo, e assim foi durante estes meses de amizade. Engraçado. Quando ele mentiu o motivo do término de seu namoro, ele disse que sua ex o havia enganado, mostrado a ele que ela era outra pessoa que ele não conhecia.
Foi isso que aconteceu conosco, não foi Adonnes?
Nós nunca conhecemos uma pessoa tão bem quanto gostaríamos. E eu pensei que você fosse à exceção para esta regra. Mas não foi. Você nunca me permitiu adentrar muito na sua vida pessoal, agora entendo. Será que existe alguma amizade verdadeira entre um homem e uma mulher? Sem haver interesses obscuros nisso? Eu quero acreditar que sim, mas estou muito ferida para crer nisso.
Em pensar que eu tinha uma queda por ele no início da nossa amizade... Parece até livramento de Deus de eu não ter tido nada, além disso.
Lobo na pele de cordeiro. Porém, um lindo lobo, branco de olhos cor de mel, cabelos pretos bagunçados, sorriso cativante, carismático... E mau caráter! Ruim pra chuchu! Não quero ouvir mais nada sobre ele neste fim de semana, preciso de paz!
Sem muita demora, já era sábado à tarde.
- Athena, repete o que disse, por favor... Quem está no bairro?- eu estava falando pelo telefone com Athena, ela estava eufórica e quase sem fôlego. - Fala garota! Quem?
-A Verônica, Andressa!! Chegou ontem à noite! Ela está aqui na cidade! E a Samanta e a Kátia contaram tudo pra ela!
-Tudo?! Tudo o quê? Sobre mim e o Adonnes...? Mas gente...! Mas... QUE VERÔNICA, ATHENA?
- A EX-NAMORADA DO ADONNES!
Um tufão passou por mim e invadiu o meu espírito. Meu coração ardeu e minha boca secou. A ex estava na cidade, e ela já sabia de tudo. Santa Mãe... Estou no Sal? Pelo que o Filipe me contou, ela terminou com ele por que ele só queria sexo. Só pensava nisso. Mas, agora, começo a pensar... Será que é verdade? Qual será a versão de Verônica? Segundo Filipe, Adonnes que terminou... Mas não faz sentido, já que era Verônica que se sentia abusada. Ela que devia ter terminado o relacionamento. Vamos descobrir.
Saí de casa, rezando para que o abençoado do Adonnes não surgisse no caminho. Bloqueei as ligações dele e fiz questão de excluí-lo do MSN, Orkut, Facebook, Twitter e dos contatos do meu e-mail. Matei o Adonnes virtualmente! Pelo menos isso. Athena me esperava em frente a uma sorveteria, junto com Samanta e Kátia.
Athena como sempre de allstar vermelhos e jeans. Já Samanta usava chinelas de dedo e brincos rosa que combinava com o tom azulado de seus olhos, Kátia usava uma tiara amarela que ajudava a destacar seus cabelos pretos cacheados e seu tom de pele morena. Com elas estava uma garota de cabelos bagunçados e loiros, de altura mediana, tinha um belo corpo e usava roupas justas. Ela esgueirou seus olhos claros, me olhou de lado, me analisou e me cumprimentou:
-Olá! Então, você é a Andressa...?
- Oi... E sim, sou eu.
Sua voz era estranha, como de uma mulher já adulta, e meio arrastada. Olhei para as duas antas, Kátia e Samanta e questionei:
-Por que vocês me dedaram? Hein?
Elas se olharam e deram de ombros. Samanta me disse que Verônica tinha que saber para que ela pudesse me explicar o que levou o Adonnes a aderir tal comportamento comigo. Olhei desconfiada, ela deu um sorriso amarelo, não retruquei, não discuti, apenas continuei:
- Tudo bem, garotas. Só não contem pra mais ninguém! Este assunto morre aqui! Tá bom?!
Elas concordaram.
Compramos sorvetes e fomos passear como lindas cinco amigas felizes! Não! O assunto era sério, e eu só tinha uma amiga no meio daquelas quatro, que era Athena. Paramos em baixo de uma árvore e Verônica começou a falar:
- O Adonnes sempre falava de você, sabe?! Eu morria de ciúmes! Quando vocês se conheceram, nós ainda namorávamos.
- Ele falava bem de mim? - tive que fazer essa pergunta, afinal, e se ele fora falso durante todo o nosso tempo de amizade? Era a hora de descobrir.
- Claro que ele falava bem! Vocês eram amigos, né?!
- Sim... Teoricamente.
- Lamento pelo que ocorreu entre vocês. Principalmente com você. No começo do nosso namoro ele não era assim. Ele era doce, meigo, queria casar, queria se preservar e tudo o mais. Achei super fofo! Mas eu não queria saber daquela babaquice...
O quê...? Agora entendo, Verônica era mais velha. Uns quatro anos talvez... Uma garota "experiente"... As peças iriam se encaixar?
- Eu o iniciei no mundo da luxúria. Do prazer pelo prazer, sabe? Mas eu não imaginaria que isso o transformaria tanto. O transformaria nisso.
- Nisso o quê? - como se eu não soubesse. Verônica, a safadona e Adonnes, o aprendiz que superou a mestra, que piada!
- Ele ficou viciado, insaciado, estava sempre querendo mais e mais. Começou a agir por instinto. Por desejos. E isso me deixou extremamente receosa.
Quer dizer que o sexo virou droga para o Adonnes? Ai, que anticristão. Verônica me deixava curiosa, ela falava tão bem, tão certo, tão calmamente, parecia até locutora de uma rádio. As meninas sentaram na calçada e continuaram atenciosas. Eu continuei em pé, com uma expressão de desaprovação, mas querendo ouvir o restante.
- Existem viciados de todos os tipos, não só de álcool ou de drogas. Mas também de TV, videogame, Internet, Coca- Cola, de ficar, de banhar, de comer doces e de sexo!
Não me diga! Dã!
-Este é o pior, pois ele não enxerga mais as pessoas como pessoas, mas como objetos.
É impressão minha, ou essa tal de Verônica tá querendo dar uma de psicóloga?
- Bem, então o nosso querido Adonnes precisa de ajuda? Não é?!- disse eu.
- Não adianta queridinha... Talvez a saída seja a internação.
Internação? Aonde? Essa menina é louca? Se colocar o Adonnes numa clínica, sei lá, onde for ele vai pegar as médicas e as pacientes todas! Nunca ouvi falar em tratamento para tarados, o único que eu sei é a castidade e a oração e olhe lá!
- Os pais dele notaram o seu comportamento estranho, e o levaram ao psicólogo. E descobrimos que o Adonnes é bipolar.
Mentiraaaa!! Bafão do clero, gente?! Dupla-personalidade? Avá! As meninas se entreolharam em pânico! "Me amarrotem, tô passada"! Uma pessoa que hora está boa, hora está má. Uma pessoa em conflito interno. Será...? Que pena do meu ex-amiguinho! Ele deve sofrer... Mas... Como eu nunca soube disso? Ah, esqueci... Ele não me contava lá muita coisa de sua vida particular, só o básico. Agora, analisando a situação, não é justo tratá-lo com tanta indelicadeza.
- Quando eu viajei para outro estado- Verônica continuou- foi para ir embora sem magoá-lo. Ele surtou, e me ameaçou com a morte se não voltasse. Tive que voltar. Quando voltei, discutimos. E começou tudo de novo...
A tal viagem dela. Ela estava fugindo...?
- Mas ele parecia tão normal comigo, os pais dele com ele, as coisas...
- Tudo teatro dos pais, minha queridinha! E ele, por ser bipolar, tem seus momentos bons. E já que você o tratava bem, tinha uma amizade saudável, ele conseguia manter-se normal.
E ficou anormal quando tentou me atacar? Seria a outra personalidade? Caracas!
Verônica olhou o relógio e piscou seus olhos copiosamente. Parecia um tique nervoso. Conversamos durante mais alguns minutos, coisas dispensáveis, pois eu não estava entendendo muito bem o que ela estava me dizendo. Até que ela olhou para o seu relógio de pulso de novo e disse, afobada:
- Oh, meu Deus! Preciso ir! Olha a hora, estou atrasada! Foi um prazer te conhecer, Andressa! Espero que tenha entendido toda a história, sinto muito e boa sorte. Independente da decisão que tomar em relação a isso, eu lhe desejo sucesso!
Agradeci. Ela se apressou e desceu a rua correndo. Achei esquisito. Kátia e Samanta se entreolharam e deram de ombros. Levantaram da calçada, discutimos um pouco sobre a descoberta e sobre Verônica e depois nos despedimos.
Athena e eu fomos caminhar pela praça, tanto ela quanto eu pensávamos muito. Sentamos num banco e contemplamos o céu e suas nuvens. Tão azul. Tão brancas.
- Isso é tão seriado americano, Andressa.
Eu ri.
- Né?!
Apoiei meus cotovelos nas coxas e descansei meu rosto nas mãos. Realmente, essa história toda parecia tão surreal. Um bipolarizado entre nós. Mas num nível tão assustador... Sinistro!
Sábado acabou. Domingo passou. Segunda-feira correu, a semana voou! E Adonnes não apareceu mais na escola. E se ele estiver internado por sua loucura? A versão da Verônica seria verídica, mas... E se alguma outra coisa tiver acontecido...?
A direção da escola disse que ele pediu transferência. Os amigos dele já não sabiam dele... Ou estavam escondendo o jogo? O que houve? Passei inúmeras vezes na frente da sua casa, estava vazia, e com uma grande placa de aluga-se. Ele se mudara. Sem me contar nada... Também, eu o excluí da minha zona digital. Não tinha como saber. Pensei em ligar... Não tive coragem... Estou com sentimento de culpa? Isso é ressentimento? O que o meu coração quer? Sinto que ele quer dizer alguma coisa para aquele garoto, mas o quê?
Já é Domingo. Estava arrumando a bagunça do meu quarto. Muito bagunçado por sinal. Meu celular começou a tocar, era um número desconhecido. Atendo? Curiosa como sou, atendi. Era Adonnes. Estremeci, meu coração acelerou. Carreguei o desprezo na minha voz para falar com ele.
- Andressa?
- É ela.
- Sou eu.
- Percebi.
- Me perdoa.
Congelei.
- Sabe, estou arrependido de ter tentado algo com você, de ter ameaçado você, a Athena e tal... É... Então, sabe...
Ele estava embaraçado. Mas sua voz estava calma. Continuei na linha. Queria muito ouvir o que ele tinha para dizer, e queria também, ouvir a sua voz... Poderia ser a última vez em que eu a ouviria.
- Você foi alguém muito especial na minha vida. Você foi a única garota que não cedeu aos meus caprichos, que lutou para que eu não realizasse minha vontade... Acho que foi isso que me enlouqueceu.
Nossa...! Será que foi isso que liberou seu lado pervertido...?
- Adonnes... - ele me interrompeu.
- Eu falo, deixa que eu falo. Você escuta. - Engoli em seco, ele continuou- Você me compreendia me alegrava, me fazia sentir importante, só que eu nunca liguei pra este tipo de afeição... Quando endoidei de desejo por você, você não foi muito radical para fugir, não me ameaçou. Você só se defendeu. Pediu ajuda as meninas. Justo, para um covarde como eu. Eu mereci apanhar.
Fiquei sem palavras... Mas algo estava me incomodando.
- Você tá bem? Tá se tratando?
- Como é? Tratando?
- É! Eu sei da sua bipolaridade, Adonnes. E que você é viciado em sexo!
- Quem te disse isso?
- A Verônica! Sua ex!
Ouvi risadas e gargalhadas do outro lado da linha.
- Adonnes, você tá se tratando?
- Ai, Andressa... Eu só concordo com o lado viciado, pois eu sou mesmo! Mas bipolar? Não acredito que ela disse isso!
- E não é...?
- Claro que não! Pra sua informação, eu terminei com ela porque ela que era a doida! E não eu! Quando ela foi para outro estado, foi tentando fugir de seus pais, para não ser internada. Por isso nós brigamos.
- Então...?
- Eu só sou taradão, e só!
Ele realmente se orgulha disso? E não se importa? Cheguei à conclusão que o Adonnes só se importa com o hoje. Mas e depois?  Aproveitei o momento.
- Por que durante a nossa amizade você não me contou nada? Você nunca aprofundou o lado pessoal e íntimo da sua vida? Por quê?
- Isso não é algo que "amigas" devem saber sobre seus "amigos". Afinal, pelo simples fato de você ser mulher, existe várias coisas que você não precisa saber sobre nós homens. E perdão de qualquer forma. Se eu quis te fazer mal e tal, se fiquei pelado na sua frente, se te dei medo e o resto.
- Você deve saber muito bem, que depois daquilo tudo, eu perdi a minha confiança em você! Poxa, Adonnes. Por quê?
- Instinto, safadeza, desejo, pecado... Dê o nome que quiser. Não me importo, eu gosto e pronto! É minha vida, é minha realidade, é meu pecado de estimação.
Não... Isso é carne, é vício, isso é desculpa, é máscara. É o que ele acha que é vida, mas é fuga da realidade.
- Fique tranquila, Andressinha... Moro longe agora. Não convém você saber onde. Mas não pense que eu me mudei para seu próprio bem ou o meu. Meu pai conseguiu um emprego melhor aqui, por isso da mudança. E como você me excluiu das suas redes sociais na net, não me preocupei em avisá-la.
- Tudo bem...
- Mas mesmo se continuasse aí, eu não iria tentar mais nada sabe...? Pra quê? Pra você contar pro seu pai que é policial e ele me prender? Tô fora! Mas diga a Athena que eu acho ela gostosinha e que eu daria uns pegas nela! 
Sem vergonha.
- Antes de eu desligar, só preciso que você me responda... Eu sei que é critério seu não odiar ninguém e nem desejar o mal... Então... ME PERDOA?
Apesar dele não merecer, o Adonnes marcou minha história, no lado bom e mau. Uma das minhas qualidades que eu não abro mão é a clemência. Sim, todos nós merecemos perdão, afinal, somos humanos, somos pecadores, e pra quê carregar ódio e rancor? A raiva que eu tinha do Adonnes foi algo passageiro. Acho que era isso que meu coração queria dizer a ele. Não é culpa nem ressentimento que eu sentia. Era a vontade de perdoá-lo, sim. Perdoá-lo.
- Sim, Adonnes. Eu te perdoo.
- Valeu Andressa. Só mais uma coisa...
- Sim?
- Ser virgem hoje tá fora de moda! Guardar isso é besteira! Muito antiquado isso, Andressa!
- Cala a boca, idiota! Eu obedeço ao meu Deus! A minha religião não permite! Ser obediente me preenche! E sem aliança no dedo, nada feito meu bem!
- Você não muda mesmo.
- Se converta! A vida não é só aqui, não é só hoje, não é só agora! Você vai acabar se machucando, Adonnes! Escuta o que eu digo!
- Tá, tá... Eu sei me cuidar, sua chata. Preciso desligar, foi bom ouvir a tua voz, pela última vez.
- Adeus, foi legal. Não me ligue mais.
- Não vou.
FIM DE CHAMADA.
Um tchau definitivo encerrou nosso último contato. Agora, em quem acreditar? Na versão de Verônica ou de Adonnes? Fui investigar.
É... Parece que Verônica estava em tratamento numa clínica psiquiátrica até receber alta. Mas na alta ela fugiu de casa. Foi aí que ela me contou tudo aquilo. Contou-me não. Mentiu-me tudo. Ela já voltou à clínica e não receberá alta tão cedo. A bipolaridade dela é grave, violenta e mentirosa. Adonnes, deveras era um pervertido do armário, que saiu do armário! Coitado. Escravo de seus desejos e vontades. Que Deus tenha piedade.
Todos voltaram a sua rotina comum, e eu também.
Filipe. Aproximei-me mais dele. O achava interessante e muito gentil, educado e respeitador. Seus olhos amendoados e negros me cativavam. Suas sardas e seu cabelo ruivo espetado era um charme. Sem falar que ele era esportista, um bônus a mais para ele. Meu namorado. Meu primeiro namoro. Ele era bem recatado e tinha o maior cuidado comigo, um fofo! Concordamos em ter um relacionamento sério, nada além da linha vermelha, se é que vocês me entendem.
Uma coisa eu acho engraçada. A Athena desaprova meu namoro com Filipe. Ela diz que como ele era da turma do Adonnes, ele pode ser do mesmo jeito dele. Discordei. Filipe é um anjo. Mesmo ela pensando assim, continuamos super amigas. 
Hoje, um belo dia de sábado. Fui a casa dele para sairmos pro nosso encontro. Entrei e o esperei sentada no sofá. Ele veio se sentou, me beijou. Seus lábios tocavam os meus com muito carinho, suavemente. Sua voz angelical me deixava confortável. Mas... Havia algo estranho naquele ambiente...
- Cadê o pessoal da sua casa, Filipe?
- Saíram. Foram visitar um parente nosso. Estamos sozinhos.
Ai pára. Sinal de perigo. Já conheço essa história. Senti-me num dejá vu.
- Ai, meu Pai...
Filipe se levantou, fechou a porta da sala, tirou a camiseta, virou-se para mim e sorriu maliciosamente.
FIM DA TERCEIRA PARTE.



Será possível que os homens só me enxergam como um pedaço de carne fresca? Gente! Isso é muito ruim! Ser objeto de desejo como as gostosonas da TV? Eu nem me visto de maneira vulgar para atrair estes tarados! Será que eu sou doce? Sou um perfume afrodisíaco que deixa estes caras loucos? Estes não, né... Afinal, foram apenas Adonnes e Filipe... Mas mesmo assim. Sinto-me extremamente desconfortável com tamanha situação.
Ontem o dia foi barra. Era apenas para ser um belo dia de sábado para um encontro amoroso entre dois namorados. Mas acabou sendo mais um dia decepcionante da minha vida. Fui à casa de Filipe para sairmos a um encontro, como fazia aos finais de semana com ele. Porém, ao me sentar bonitinha na sala de sua casa, ele diz que estávamos sozinhos, fecha a porta e tira a camiseta. Olha pra mim com um sorrisinho de tarado e diz que já era a hora de consumarmos nossa relação.
Não fazia nem cinco meses direito que namorávamos e ele já queria "aquilo"!? E eu, tonta como sou, pensei que ele fosse um cara diferente, pronto pra me respeitar, pra esperar, pra quem sabe, noivar e casar... Mas não! Mesmo eu contando tudo o que aconteceu comigo e com o Adonnes, ele fez aquela palhaçada comigo! Será que todos os homens são assim?
Bem que a Athena me disse. Filipe era da mesma laia do Adonnes, da mesma turma, e não merecia ser digno de confiança... Mas eu confiei, dei corda, e parei naquela situação, bem parecida por sinal.
Levantei bem rápido do sofá e já o enfrentei.
- Pode parar por aí, Filipe! Eu não acredito que você está pensando nisso! Pô cara! Depois de tudo o que eu te disse, de ter desabafado contigo daquela vez?! Você realmente quer isso?
- Andressa... Não seja tão ridícula! Eu realmente gostaria de esperar e tudo mais... Mas acontece que você é linda demais! Gostosa demais! E eu não estou conseguindo me segurar! Eu preciso do seu corpo, do seu cheiro, do seu gosto...
Ele se aproximou e começou a fungar no meu cangote, em seguida começou a me cheirar e a beijar meu pescoço. Fechei os olhos e pensei comigo: "Não posso cair nessa de novo... Não posso ser sonsa de novo! Errar uma vez é humano, mas já duas é burrice!".
Filipe me segurou e me abraçou forte, continuando a me beijar. Olhei para a mesa de centro e vi um vaso de flores de porcelana que estava em cima. Afastei Filipe de mim, o olhei com carinho, ele sorriu de volta, o beijei... Meu último beijo. Ele tirou a bermuda...
Que otário.Cueca vermelha, coisa de pervertido. Quando ele veio entrelaçar seus dedos em meus cabelos e começar a me beijar na boca... O empurrei. Ele pulou para trás. Peguei o vaso da mesinha e taquei com toda a minha força em sua cabeça. O vaso quebrou. Ele cambaleou.
O empurrei de novo e o joguei contra a mesa de centro, que com o impacto se partiu, espalhando cacos de vidro sobre o tapete da sala e cortando as costas dele.
Como ele tinha trancado a porta da frente, que dava direto para o portão, saí pela cozinha e dei a volta pelo quintal. Meu coração batia muito forte, quase saindo pela boca. O calor que eu sentia era terrível, comecei a sentir a mesma adrenalina da vez que eu fugi da casa do Adonnes. Quando cheguei ao portão da frente, trancado. Pude ouvir a voz de Filipe lá de dentro:
- Andressa! Por favor... Me desculpe... Me ajude! Estou machucado, está saindo sangue... Não posso me mexer. Estou zonzo... Me perdoa... Me ajuda. Prometo não tentar nada... -Devo confiar?
Ouvi grunhidos de dor e em meio a eles, um choro engasgado. Filipe estava mesmo chorando? Olhei pela janela da sala. Ele ainda estava caído, tentando se levantar, realmente havia sangue em suas costas, lágrimas em sua face e também sangue descendo por uma cicatriz em sua testa, mas não parecia algo muito grave. Ele ficou acocorado, e me olhou de lado.
- Por favor, meu amor... Me ajuda... Faz um curativo... Vamos limpar essa bagunça e fingir que nada disso aconteceu, tá bom?
- É sério, Filipe? Posso confiar?
Ele se levantou.
- Eu prometo que tudo ficará bem, beleza? Tudo isso já é passado. Confie em mim. Vamos. Entra aqui... - Ele pegou a chave e estava destrancando a porta da sala para sair ao meu encontro.
Dei alguns passos pra trás e colei no muro do portão. Ele abriu a porta com violência e saiu furioso.
- EU DISSE ENTRA AQUI, ANDRESSA!
Tudo fingimento! Os cortes nas costas e o da testa não o impossibilitaram de correr até mim e de me prender contra a parede! Sua força era tanta que senti a dor de sua pegada em meus braços.
- Vamos, lá! Estamos sozinhos! E você é mulher, o sexo frágil... E VAI TER QUE CEDER! EU TE QUERO COM TODAS AS MINHAS FORÇAS!
- MAS EU NÃO VOU FAZER E PONTO! - e decidi- O NOSSO NAMORO TERMINA AQUI!
Usei todas as minhas forças e o empurrei, dei uma pesada na sua barriga que ele praticamente voou para o chão. Olhei aquela cena e me espantei. Como eu consegui fazer aquilo? O engraçado foi o ver cair de cuequinha vermelha no chão, com violência. Que mico. Olhei para cima e escalei o muro numa precisão geométrica, encaixando meus pés em cada falha de tijolos e de rebocos mal feitos. Lá de cima, eu disse para que ele pudesse me escutar:
- Escuta aqui, ex-namorado! Se vier atrás de mim, como o Adonnes fez, eu vou contar para o meu pai! Você sabe que ele é policial, não é? Então fica esperto! - Ele olhou para cima, ainda caído.
-E eu não vou ser mais a boba não! Ainda mais contigo! Não pude ter contado pra ele na última situação, mas desta vez... EU CONTO! Tá avisado! Afasta-se de mim!
Pulei. Eu é que não iria me arriscar a tomar as chaves e sair pelo portão. Caí de mau jeito no chão e machuquei meu joelho, fiquei mancando, mas mesmo assim... PERNAS PRA QUE TE QUERO!
Quando estava no final da rua, ele abriu o portão e olhou em minha direção, como ele não sairia seminu na rua, pude voltar para casa tranquila... Ou quase. A expressão que ele fez ontem quando me viu já longe foi a de que perdeu o jogo.
GAME OVER, FILIPE.
Pude ser imbecil uma vez, mas outra? Não!
Eu conversei com a Athena pelo bate-papo, pois ela iria sair e não daria pra gente discutir este assunto pessoalmente. Ela não acreditou na ousadia do Filipe e me disse o que acho que todos diriam pra mim: "Bem que eu te falei! Não quis me escutar! Filipe e Adonnes, farinha do mesmo saco!" Nem fiz questão de responder, apenas mandei um tchau em emoticon e um beijinho. Porém, ela estava certa, completamente certa.
Domingo. Nem o aproveitei. O sábado foi demais pra mim. Não consegui falar com a Athena. Celular desligado... E ela não respondia aos meus e-mails. O dia foi passando, e eu fiquei enclausurada em casa, analisando a minha vida e pensando em várias ocasiões. Circulei pelo meu quarto e coloquei música alta para poder ouvir... Ai, Lifehouse... Adoro. Mas as músicas fizeram-me lembrar do Adonnes... Do "Donnes". Puxa... Nossa amizade parecia tão verdadeira.
Estou com saudades.
Mas acho que só eu que estou sentindo isso. Que estou de certa forma, sofrendo. Sim. Sempre são as mulheres que sofrem mais com este tipo de coisa. Rompimento de relacionamento seja lá qual for. Será que ele não está com um pingo de saudades? Eu gostaria que ele estivesse.
Entrei na internet e convidei o Adonnes para voltar a fazer parte das minhas redes sociais... Peraí! O que eu tô fazendo? Tenho certeza que ele não quer mais me ver, nem pintada de ouro! Ou será que não? Mas... Se ele fosse casto, até que dava pra gente namorar... Pára! Não sonha Andressa! Isso é utopia! Deu pra perceber pela nossa última conversa! O Adonnes não vai mudar! Mas bem que podia...
Meu coração palpitou forte quando começou a tocar "You and Me". Caí de costas na cama, olhei para o teto, fechei os olhos, me senti segura, me senti em paz. Não estava nem ligando para o que o Filipe poderia fazer durante a semana. Filipe... Depois de ontem ele nem me ligou nem nada. Será que eu consegui intimidar ele? Espero que sim.
Segunda-feira! Eita dia ruim! Poderia ser declarado um feriado. As aulas como sempre chatas. No primeiro horário, Athena estava muito distraída como se estivesse num país distante.
- Athena. Você tá bem?
- Ai, Andressa... É a vida, né?! Ontem eu descobri que gosto de verdade de alguém... E fui fazer uma análise de meus sentimentos... Não posso me aproximar dele... Mas me apaixonei.

Athena apaixonada!? Preciso saber quem é!

- Quando eu estiver pronta eu te falo. Estou meio aérea neste primeiro horário.

Quase comecei a rir quando ela começou a cantarolar os versos da música mais antigueira do Nx Zero.

- â(TM)«Entre razões e emoções a saída. É fazer valer à pena. â(TM)ª Se não agora depois, não importa. Por você posso esperarâ(TM)ª...

- Ai, Senhor... O negócio ontem foi sério viu?!

- Nem tanto. Ah! Ontem eu perdi o carregador do meu celular e ele descarregou, caso você tenha tentado ligar. E eu não entrei na net ontem por causa destes turbilhões de sentimentos tomando o meu tempo.

Ela só sabe me deixar mais curiosa!

Na hora do intervalo, andando distraída pelos corredores eu vi Filipe. Quando ele me viu virou o rosto fingindo que nem me avistou. Havia pontos na sua testa, da pancada do vaso que eu dei nele naquele odioso sábado. Percebi que eu o intimidei. Sorri. E eu não estava sentindo nem um pouco de ressentimento.

Eu estava andando sem a Athena pela escola. Ela tinha sumido. Quando o sinal do intervalo tocou, ela correu da sala de aula. Estranhei. Entrei no banheiro feminino para me arrumar, passar batom, arrumar o cabelo e tal. O banheiro estava cheio. Fofocas aqui e acolá, mas uma me chamou a atenção:

- Você soube garota? A Kátia tá afinzassa do Filipe!

- É! Parece que ele e Andressa romperam neste fim de semana!

- Mas a Kátia não é amiga dela?

- Nada! Só colegas! Dá nada não, boba! E cá pra nós... O Filipe é um gato!!

Quando elas me viram, se calaram e saíram desconfiadas do banheiro. Mais essa! A Kátia afim do Filipe? Que se dane!O sinal do fim do intervalo tocou. Enquanto todos os alunos voltavam para as suas salas, inclusive eu, ouvi a voz da Athena próxima à cantina, num canto desolado, falando ao celular. Ela parecia com pressa de alguma coisa. Cheguei perto para ouvir, sem que ela me visse.

- Você me entendeu direito? Eu não me importo com as suas atitudes! Eu apenas me apaixonei, aconteceu! E eu sei que você não foi para tão longe. Para nos encontrarmos, basta uma hora e meia de ônibus...

Com quem ela estava falando? Tava parecendo que era com um menino.

- Responde! Vamos nos encontrar? Vamos conversar? Eu já disse que eu não me importo com isso! Se você quiser, eu caio pra dentro mesmo!

Mas o quê...? Será a paquera dela?

-Aceita!? Ai, que ótimo! Nos encontramos então, queridinho! Amanhã? Já? À tarde? Beleza, então. Nossa terça-feira será ótima!

Um encontro...! Athena estava marcando um encontro!

- Então até amanhã. Estou ansiosa para te ver, seu otáriozinho. Beijos, Adonnes. Tchau!

A-a-a-adon-don-donnes????
Não consegui me segurar. Minha melhor amiga. Minha ouvinte e confidente. Escondendo-me isso? Ela realmente estava marcando um encontro com aquele safado? Fiquei de sangue! A fúria subiu minha cabeça, mas me segurei, e carreguei meu tom de voz para que não ficasse tão ofensivo.
-Athena.
Ela se virou. Seu susto foi tão grande que deixou seu celular cair.
- An-an-andressa? O que faz aqui?
- Eu que pergunto.
- Eu estava conversando com meu irmão...
- Irmão nada! O que significa isso? Perdeu o carregador, não entrou na net ontem... Duvido nada que estava de converseiro com o Adonnes usando outro celular!
- Bem, é que... Sabe... Liguei pra saber como ele tá... E...
- Não adianta se explicar. Eu ouvi o suficiente para poder encaixar as peças. Você se apaixonou por ele, fez sua declaração ontem e marcou um encontro hoje! Tô te assistindo, Athena!
- Eu iria te falar! Tudinho, tudinho! Juro!
- Depois de quê? De "cair pra dentro"? Ora, Athena!! Depois de tudo! Sabendo o que ele fez comigo! Que merdaa!
- EU NÃO PEDI PARA ME APAIXONAR POR AQUELE BANDIDO! ACONTECEU! SURGIU! MEU CORAÇÃO QUIS!
- Agora a culpa é do seu coração? Não! Não existe coração nisso! Existe falta de respeito por uma amiga! Que depositou as confianças em você, que confidenciou tudo a você, que pediu ajuda a você- as lágrimas jorravam dos meus olhos como cachoeira- Que compartilhava segredos com você, que jurava que nunca ficaria com a paquera da outra ou com alguém que nos tivesse feito sofrer! Athena! Por quê...?
- Por amor... Atração. Nunca quis ter me apaixonado por ele. Ontem, eu estava me culpando por isso, por estar sentindo isso por ele. Desliguei meu celular para que você não ligasse, não entrei na internet para não ver os seus e-mails. Passei boa parte do dia assim, me culpando. Mas o sentimento foi mais forte, aí eu usei o celular do meu irmão para poder falar com o Adonnes.
Ela começou a chorar.
- Me entenda, amiga! Foi por AMOR!
- Amor?! -soltei uma risada irônica- Como você vem me falar de amor? Isso é sem-vergonhice! Eu, cheia de problemas, e você ainda me solta uma dessas!
- O mundo não gira só ao seu redor não, Andressa mimada! O tempo passa e as coisas vão acontecendo e mudando! Nada sai do jeito que a gente quer! Do jeito que você quer! Se saísse, eu não estaria nessa muvuca!  
Aproximei-me de Athena e a olhei por alto.
- Muito bem! Faça o que bem entender! A vida é sua, você é livre não é? Então use desta sua liberdade... Ou melhor... Desta sua libertinagem!
Trocamos olhares de fúria. Como se dois navios de guerra estivessem guerreando em alto mar. Senti neste momento, um grande aperto no peito, uma pressão na garganta, uma lágrima escondida. Eu estava perdendo uma amiga? Uma amiga, não... A amiga. Aquela em que eu pude contar em todos os momentos da minha vida. É... Fazia mais de anos que eu conhecia a Athena, e eu sempre pude contar com ela. Ela, porém, raras vezes pediu minha ajuda. Que droga... Isso não estava acontecendo. Uma traição. Daquela pessoa em que eu mais botava fé. Uma punhalada nas costas.
Ela passou por mim e foi caminhando, mas antes falou:
- Sinto muito pelo Filipe. Você não merecia.
- Não preciso de suas condolências.
- Só estou dizendo da boca pra fora... Não sei nem qual é o seu nome, garota.
Aquilo foi como um raio que partiu o meu corpo ao meio.
- E faça bom proveito daquele "Safadonnes"!
- É Adonnes! E pode apostar que farei.
Naquele instante. Tomamos caminhos opostos.
Minha atitude para com ela, com certeza, não foi nada cristã. Talvez pudesse ser, mas como sou fraca, não consegui ter o domínio do meu lado humano.
 Não sei como será o futuro. Mas hoje não quero pensar em mais nada. Nem no Adonnes, nem na Athena e nem no Filipe. Muito menos na Kátia que supostamente está afim dele. Preciso de calmaria e de silêncio. Preciso ficar sozinha.
Quando voltava para a sala de aula, vi Samanta em baixo de uma árvore no pátio, cabisbaixa. Ela parecia triste, bem triste. Fui falar com ela e perguntar o que tinha acontecido.
- Briguei com a Kátia...
Naquele momento eu estava sentindo o mesmo que ela. A perda de um amigo.
- Eu briguei com a Athena.
Trocamos olhares de piedade e de dor. Ela começou a chorar, borrando sua maquiagem e deixando os seus olhos azuis mais brilhantes. Parece que a amizade dela com a Kátia era de muito tempo, muito significativa. A abracei. Foi um ótimo abraço, confortador, quente e consolador. Não quis perguntar o motivo da briga, ela também não me perguntou o motivo da minha. Esqueci o ficar sozinha, precisava de companhia. Ficamos ali, conversando durante um bom tempo até tocar o sinal para começar o quinto horário. Pois é, matamos o quarto.
Samanta e eu decidimos andar juntas e nos conhecer melhor, não bolamos nenhum plano para voltarmos com nossas antigas amigas, estávamos muito tristes para tal ato. Ela foi para a sua sala e eu para a minha. Athena, que costumava sentar do meu lado, foi para a primeira carteira de frente a mesa do professor, ao lado da janela. Eu só a olhei rapidamente e sentei no meu lugar, no canto da parede do lado da porta, na última carteira.
Seria difícil conviver com aquele clima pesadíssimo. Mas eu tinha que ser forte.
As aulas acabaram. Esperei todos os alunos saírem. Athena nem olhou na minha cara e saiu apressadamente. Fiquei sozinha arrumando minhas coisas. Organizando as folhas do meu fichário e guardando meus livros na mochila. Antes de eu sair da sala, me celular deu um toque. Era uma mensagem de um número desconhecido. Meu coração se comprimiu tanto que eu fiquei com falta de ar. Será ele...?
"Estou com saudades, é sério. Precisamos nos falar. Nada, além disso, prometo. Entra na net hoje à noite, te espero."
ADONNES.
Eu queria jogar o celular com toda a minha força contra a parede. Não sabia se eu estava feliz ou frustrada. O que ele quer comigo? Espero que possamos nos acertar. Ou não... Hoje eu vou jogar na cara dele essa historinha com a Athena! Ah, se vou!
E ele está com saudades! Ai, como eu sou otária...
Saí às pressas da sala e fui de encontro ao corredor, estava tão perdida em meus pensamentos que não estava enxergando um palmo a minha frente. Senti um impacto que me empurrou pra trás, meu fichário caiu e eu fui de encontro ao chão. Caí sentada. Meio zonza, olhei para os lados e depois para frente, quando olhei para cima, uma mão estava estendida pra mim, me oferecendo ajuda.
- Mil perdões, senhorita! Você está bem?
- Ah... O quê?
- Me desculpe, eu estava correndo sem olhar para frente e acabei esbarrando em você quando virei o corredor. Permita-me ajudá-la.
Era um rapaz. Um aluno da escola. Eu já o tinha visto antes, na biblioteca, nos corredores e na quadra de esportes. Eu sempre o achei um charme, mas nunca tive a oportunidade de conhecê-lo. Ele me ajudou a levantar, pegou o meu fichário do chão e me entregou.
- Me desculpe mesmo, senhorita!
- É Andressa.
- Ah, você é a Andressa. A que todos falam...?
Todos falam...? Como assim? Fiz uma cara de interrogação.
- Não pense que eu participo deste tipo de fofoca, eu só sei o básico. Mas pelo que sei, ele não te merece. O tal do Adonnes. E nem o tal do Filipe, que não é flor que se cheire... Bem, me desculpe mais uma vez... Quem sou eu para te dizer isso...
- Não. Tudo bem. Foi bom ouvir isso...
O Adonnes não me merece. O Filipe não me merece. Mas se eles não me merecem, quem vai me merecer? Uma garota que já passou por estas situações e que, atualmente, anda cheia de problemas. Será que eu sou exigente demais quando se trata de namoro? Não, acho que é por que eu quero viver a castidade na minha vida, por isso essas coisas acontecem.
- Então, tá... Né, Andressa... - ele ficou realmente sem graça- A gente se vê por aí, me desculpe de qualquer forma. -Ele foi saindo, eu o interrompi:
- Garoto, qual é o seu nome?- Ele se virou e pensou um pouco.
- Meu nome é Arthur. Eros Arthur. Prazer em te conhecer. - E saiu.
- O prazer foi meu...
Eros... Arthur. Que nome poderoso.
FIM DA QUARTA PARTE.
Parte V. Final
Noite de segunda-feira. Estava na hora de conversar com o Adonnes via MSN. Ele havia me aceitado nos seus perfis virtuais, e mandado um e-mail com o horário que estaria on-line. Oito horas em ponto. Adonnes entrou na rede.
- Oi. - comecei.
-Oi. - ele respondeu.
- Tudo bem?
- Gostaria que estivesse. Mas não está.
- Por que mandou aquela mensagem de saudades pra mim?
- Porque realmente estou com saudades. Eu caí na real, Andressa. O mundo não vale nada sem amor.
- Hum... Parece que você percebeu.
- Nestes meses em outra cidade, longe dos meus amigos daí, longe de você, percebi que a vida não vale a pena sem a confiança e a verdade.
- Posso saber o que te fez mudar de ideia?
- Além de eu ter me machucado emocionalmente aqui... De descobrir da pior forma que as minhas atitudes causavam mal para mim e para os outros, de ser usado como fiz com várias garotas...  Além de tudo isso, eu percebi que eu sou vazio.
Adonnes caiu na real?
- Adonnes... Fico até sem palavras. É sério mesmo?
- Sério! Eu era um conquistador barato, que não me aprofundava em nenhuma relação, que vivia a superficialidade. Eu estava praticando um esporte egoísta, pulando de galho em galho, tentando me satisfazer da maneira que eu achava que me faria feliz.
Nossa...
 Mas viver do prazer da carne só por viver não é nada feliz... Eu preciso aprender a usar as coisas e a amar as pessoas, e não o contrário.
- Você sabe que tentava só alimentar seu ego, não é?
- Sim... Meu ego. De ser pegador, garanhão! Respeitado e admirado pela galera de farra... Mas eu não cheguei a ser um ninfomaníaco, obcecado por sexo. Mas eu viciei... E uma vez ou outra eu precisava me satisfazer.
- Você fazia isso porque pensava que não tinha nada a oferecer, senão um corpo e uma lábia de sedutor.
- Sim... Eu queria ser o sedutor, o cara.  
- No entanto você conseguiu me mostrar, pelo menos um pouco, do seu lado gentil e dócil. Do seu lado são. Do seu lado casto, de certa forma.
- É...
- Não precisa se esconder atrás deste tipo de vício, Adonnes. Eu sei que você deve ser inseguro. E eu não devo te censurar, devo lamentar por você. Você tem medo de uma proximidade pessoal, por isso usa a proximidade física.
- Eu tenho medo...? De quê?
- De se apaixonar! De sentir um sentimento verdadeiro por alguém, que te faça fazer de tudo para estar com aquela pessoa, de fazê-la feliz, de tratá-la bem. Você precisa de amor. Do verdadeiro amor humano.
- É... Você está certa. Mas sabe o outro motivo que me levou a lutar contra isso?
- Sim.
- Descobri que o meu pai traía a minha mãe. Com várias mulheres. No trabalho dele e depois do expediente. Ela não sabe, mas eu já o pressionei contra a parede. Se ele não contar a ela, eu mesmo conto. E se minha mãe pedir divórcio, voltaremos para a nossa velha casa.
- Seu pai...? Adonnes! Um homem tão sério e culto?!
- Pra você ver... Eu não quero ser o reflexo dele. Eu não quero SER ELE! Estou muito triste com isso tudo, por isso decidi mudar.
Ele ficou um tempo sem digitar nada. Eu também não digitei mais nada. O silêncio no meu quarto era terrível. Decidi tirar uma dúvida:
- Por que você vai se encontrar com a Athena?
- Ela te contou?
- Não. Eu descobri e nós brigamos.
- Sinto muito. Mas eu queria falar com ela sobre o que ela está sentindo. Ontem, domingo, ela me ligou e fez a maior declaração de amor. Eu me assustei. Sabe, eu acho ela bonitinha e tal... Mas ela não faz o meu tipo. E eu não gosto dela, sabe, pra tentar um namoro.
- Sei...
- Eu iria... Não. Eu ainda vou. Amanhã à tarde me encontrarei com ela, e colocaremos tudo em pratos limpos. Ela é a sua amiga. Não quero nada com ela.
Toda aquela conversa estava me deixando tranquila.
- Eu vou tentar mudar Andressa! Eu preciso cortar o mal pela raiz! Eu tenho que começar a ser feliz! Pois o que eu fazia só me deixava mais triste e sozinho. Mas vou precisar de ajuda, vou precisar de você.
Quando li esta última postagem dele, me senti leve. Senti-me importante. Eu ainda significo algo para o Adonnes?
- Você ainda é minha amiga, não é?
Amiga...?
- Claro Adonnes. - fiquei sem graça- A partir de hoje, retornaremos com a nossa amizade.
Já que não teremos mais nada, além disso, decidi ser bem clara.
- Mas agora Adonnes, eu quero um jogo aberto, só poderei te ajudar se você realmente confiar em mim e me confidenciar o que te incomoda.
- Sim, Andressa. A melhor coisa agora que eu vou lhe oferecer, será sempre a verdade.
Sorri.
E conversamos por um bom tempo. Ele disse que iria sempre me mandar e-mails de como anda a situação em sua casa. Se o pai dele contar sua falta de decência a sua mãe, e ela perdoá-lo, é capaz deles continuarem juntos. Mas se ele não contar o Adonnes conta, e se houver divórcio, ele e sua mãe voltam para a antiga casa. Espero que a mãe do Adonnes saiba tomar a escolha certa... Rezarei para que nada de ruim aconteça com eles.
O seu mais leve olhar
Vai me fazer, facilmente, desabrochar.
Apesar de eu ter me fechado
Como um punho cerrado,
Você me abre sempre pétala
Por pétala
Como a primavera abre
(tocando de leve, misteriosamente)
Sua primeira rosa.
E.e cummings
Mais uma carta do meu admirador secreto. Desde terça-feira as recebo.
Hoje, sexta-feira, um dia lindo como qualquer outro, um dia de aula como qualquer outro. Estamos terminando o ano letivo... É... Foi um ano difícil, com coisas demais para a minha cabecinha de dezessete anos. Os preparativos para o baile de formatura começaram. Eu estava ansiosa, seria um baile estilo americano, e eu não tinha o meu par ainda.
Samanta e eu, agora, andávamos juntas. Athena estava sempre me olhando com aquela cara de: "Preciso falar com ela, preciso me desculpar." A meu ver era isso que ela queria dizer. Eu estava até que bem. O último e-mail do Adonnes dizia que o a mãe dele pediu divórcio. Sim, ela não aguentou a humilhação. Se o pai do Adonnes tivesse só uma amante, até que ia, mas não, ele possuía várias. Ele vai voltar para a cidade, junto com a mãe dele. Ela tinha um bom emprego, e vai reassumir a vaga que ela deixou em aberto aqui.
Mas sabe. O meu sentimento de amor pelo Adonnes se transformou em respeito e cuidado. Eu quero estar por perto para esta nova fase em sua vida, esta fase de mudanças. Eu quero voltar a ser amiga dele, para que possamos compartilhar a verdadeira amizade. No limite da amizade entre um homem e uma mulher.
Intervalo.
Vi Kátia próxima à cantina, num canto não muito aberto, aos amassos com Filipe. Fiquei de cara. Ela realmente conseguiu. Não podia deixar aquela passar e fui ao encontro deles. Parei, os encarei e cruzei os braços. Os dois pararam a pegação, me olharam com indiferença e Filipe começou.
- Com ciúmes, gata?
- Nem um pouco... Eu terminei com você, lembra?
- Isso não importa, encontrei quem verdadeiramente me quer.
- Claro... Uma garota safada e mundana como você, Filipe! Isso você encontra em qualquer esquina, rodando bolsinha!                       
- Veja lá como fala comigo, Andressa! Eu te ajudei com o Adonnes aquela vez!
- Minha filha, isso já faz uns seis meses! Você acha que eu ligo? Eu sei que ele te traçou, e muitas outras garotas por aí!- Joguei na cara! Perdão Senhor!
- É, mas não significou nada!
- Nunca significa querida! Mas você sabe o resultado... Ele levou a fama de garanhão, e você... De rodada!
Filipe entrou na discussão:
- Cala a boca! Você não tem o direito de falar isso com a MINHA NOVA NAMORADA! Ouviu, Andressa!?
- Pois a sua EX-NAMORADA aqui tem um recadinho para você, Filipe... Ela não é a sua "nova namorada", ela é a sua PIRIGUETE!- Os olhei com satisfação e vontade de rir, e saí com classe de perto deles. Senti um puxão no meu cabelo e quando dei por mim, já estava presa numa chave de braço da Kátia.
- Piriguete aqui é você! Que passou pela mão do Adonnes! Duvido nada que não rolou nada entre vocês, vaca!
Livrei-me rapidamente do golpe e empurrei os seus ombros.
- E você que está com este tarado do Filipe, Kátia?! Que namoro é esse? Namoro de safadeza, isso sim!
Os alunos próximos ouviram a discussão e de repente já existia uma rodinha ao nosso redor gritando: "BRIGA, BRIGA, BRIGA!" Filipe, cagão do jeito que é se afastou e sumiu no meio da galera, é... Parece que ele odeia este tipo de confusão.
- Eu não quero brigar, Kátia! Já to te avisando, isso não vai levar a nada! Fica com o teu namorado, fica! E que sejam felizes!! - os alunos fizeram um "Uuuhhh..."
- E fico mesmo! E daí?! E posso te falar com todas as letras, sua idiota! O FILIPE É TUDO DE BOM!
- Que bom para vocês... Não vou dizer mais nada, porque pra mim, hoje, vocês não significam mais nada na minha vida!
Mais um "Uuuhhh..." dos alunos.
- Nunca precisou! Deixa eu te dizer uma coisa "Cinco meses de namoro com o meu ruivinho..." Você foi chifrada!! Hahahaha!! Antes de vocês romperem! Não... Desde que começaram a namorar, eu e Filipe já éramos amantes! Hahahaha!
Ela gargalhou e ajeitou os seus cabelos pretos cacheados e me olhou, rindo da minha cara.
Aí já era demais. Odeio traições! Filipe... Este duas caras. Eu não me contive... Depositei minha confiança nele, e ele me traiu durante o nosso relacionamento?! Arranquei Filipe da multidão e exigi uma explicação. Ele se calou. Como quem cala consente, acreditei. Todos os alunos me olharam com pena e começaram a comentar:
-Coitada, foi enganada.
-Traída, que malz.
- Tadinha da Andressa.
- Ela não merecia isso...
- Poxa... Que sacanagem desse Filipe, gente!
A Kátia sorriu com um sarcasmo tão grande que despertou a égua indomada dentro de mim. Num salto, pulei em cima dela, ela caiu no chão e comecei a estapear aquela "abençoada", com todas as minhas forças. As lágrimas saltavam de meus olhos e minha respiração ficou ofegante, os meus urros eram de puro ódio! Kátia gritava por socorro.
Eu não estava nem aí. Precisava me vingar! Os meus golpes a faziam gritar de dor. Filipe me puxou com força pelo braço e me jogou pra longe dela. Cega de raiva avancei de novo, ele ficou na frente, impedindo minha passagem, e eu tentava driblá-lo para bater mais naquela criatura, que estava tentando se levantar do chão.
- ME DEIXA QUEBRAR A CARA DELA!!
-NÃO!
Filipe me deu um tapa tão grande na cara que eu rodopiei e caí no chão. Coloquei a mão no rosto, o olhei com espanto. O tapa doeu bastante, meu rosto queimava de dor. A expressão dele era impassível. Ele avançou, flexionou o joelho, curvou seu corpo e cara a cara comigo, disse: 
- Quer apanhar? Bem que você merece! Não pense que eu esqueci o que você fez comigo no sábado! Minhas costas e minha testa desejam que eu desconte.
Filipe me agarrou pelo pescoço e me ergueu. Ele estava me sufocando. Tentei me livrar. Os alunos ficaram chocados! "Que covarde!" Kátia o incentivava para que partisse minha cara ao meio. E ninguém surgia para me defender. Estou perdida...?
- LARGA A MINHA AMIGA, SEU OTÁRIO!
A voz de Athena chegou aos meus ouvidos e me deu forças para me livrar dele.
- Oi, Athena. Obrigada. - tossi.
- Não há de quê, Andressa. Não podemos jogar nossa amizade fora por qualquer besteira. Adonnes me contou tudo. Me perdoa?
- Sim, e você?
- Claro, fechou!
Samanta entrou no círculo e mandou Kátia parar de incentivar a briga. Kátia xingou Samanta sem nenhum pudor. Filipe a empurrou e ela caiu no chão. Kátia riu.
- Filipe! Pode parar! - Gritei.
- E quem vai me impedir?
- Espanca essas vadias, Filipe! Começando pela Andressa!
Filipe avançou como um touro furioso, seguindo ordens de sua mestra. Ele chutou Samanta, empurrou Athena e parou na minha frente. Preparou o punho para me socar. Fechei os olhos. Nenhum dos estudantes vai ajudar? Aquilo já tinha virado guerra! Até que ouvi uma voz gritando:
- SE AFASTE DA SENHORITA ANDRESSA! 
E depois disso ouvi o barulho de alguém caindo. Quando abri os olhos, vi Eros Arthur de pé na minha frente e Filipe caído no chão.
- Pode parar com isso! Virou bagunça agora é?-disse Eros.
- Bate nele, Filipe! - gritou Kátia.
- Quem é você? - perguntou Filipe.
- Sou o admirador secreto desta adorável dama, e você é o vilão desta história! Levante um dedo contra ela que você sentirá o poder de meus punhos!
Nossa! Ele era o meu admirador secreto? Eu me espantei. Eros falava de uma forma tão limpa e culta que dava vontade de rir. Athena, Samanta e eu nos entreolhamos surpresas. Afastamos-nos do meio da roda e ficamos assistindo. Kátia, do outro lado, mandava Filipe bater no Eros.
- Quer mesmo brigar, playboy?  
- Não. Mas se você quiser. Sem preconceito.
Eros Arthur... Não. Vou chamá-lo apenas de Arthur. Ele era bonito. Negro claro, alto, com cabelos ondulados e pretos. Seus olhos verdes esmeralda eram hipnotizantes. Todos gritaram briga. E eu também, hehehe!
Filipe avançou como um titã feroz pronto para a chacina, já Arthur, numa posição engraçada de luta, ficou parado esperando o avanço do inimigo. A rodinha para ver a briga cresceu. Os estudantes estavam eufóricos! Filipe tentou um soco de direita, mas Arthur bloqueou com seu antebraço esquerdo e, rapidamente, acertou de punho cerrado, o estômago de Filipe, que gemeu de dor. Consumido pela fúria, ele tentou de todas as formas dar um golpe de impacto em seu adversário. Não obteve sucesso.
Todos os seus golpes pareciam não causar dor em Arthur, que bloqueava, ou desviava ou deixava que acertasse. E a plateia foi à loucura quando, atleticamente, Arthur deu um chute nas costelas de Filipe, que voou para longe, quase caindo de joelhos. Ele colocou a destra nas costelas e tentou se recompor.
Arthur não esperou.Como um lutador treinado para brigar, avançou rapidamente e socou Filipe no rosto, depois o segurou pelos ombros e deu uma pesada bem na barriga. Filipe cambaleou, mas não caiu. Saía sangue de seu nariz e de sua boca. Ele estava ofegante. Arthur correu e tomou distância. Todos que estavam vendo prenderam a respiração. Kátia fechou os olhos. Arthur correu e deu uma voadora que acertou Filipe em cheio.
Filipe caiu por terra. Derrotado. Humilhado. Todos urraram e comemoraram. Eu e as meninas ficamos embasbacadas. Eros era o nosso herói!
Antes de o sinal tocar, o diretor da escola apareceu. Athena, Samanta, Arthur, Filipe, Kátia e eu recebemos uma suspensão de três dias e com ela, uma dose extra de aulas de "como se comportar civilizadamente dentro de uma instituição de ensino." Nem liguei. Filipe mereceu.
Athena e eu já não estávamos mais brigadas, Samanta agora era a nossa amiguinha e Arthur... Decidi conversar com ele. Sobre o seu suposto amor por mim.
- Foi amor à primeira vista?
- Digamos que sim, Andressa.
Não dei chance pra ele na nossa primeira conversa, estávamos nos conhecendo. E se ele também fosse um pervertidão do armário? Mesmo tentando não dar trela pra ele, Arthur tentava me conquistar, das maneiras mais românticas possíveis. Mandando-me flores, cartões e chocolate, que eu adorei!
"Amo como ama o amor. Não conheço nenhuma outra razão para amar senão amar. Que queres que te diga, além de que te amo, se o que quero dizer-te é que te amo?"
Fernando Pessoa.
Suas mensagens eram de deixar qualquer garota nas nuvens. Mas eu ainda estava muito ferida para começar um novo relacionamento.
"Importante não foi o dia que te conheci, mas o momento em que você passou a viver dentro de mim."
"Se a natureza me oferecesse duas coisas e me mandasse escolher, eu não me importaria com a segunda, desde que a primeira fosse você."
"Se você pensa que não é ninguém para o mundo. Tenha certeza que será o mundo para alguém, se ficar comigo."
Um super fofo! Mega fofo! Hiper fofo! Mas ainda não podia confiar nele.
Passou mais duas semanas, e era véspera do baile de formatura. Eu estava louca, tentando encontrar o vestido certo, o penteado certo e o cara certo! É eu ainda não tinha par! O Arthur nem me pediu isso, e eu não vou ser a cara de pau e convidá-lo, já que estou bancando a difícil.
Athena iria com um de nossos colegas de classe. Acho que é uma paquerinha dela. Samanta iria com um dos bonitões do time de futebol da escola. E eu... Gostaria de ir com o meu herói, o Arthur.
Quando eu estava saindo do salão de beleza, vi de longe um garoto que era a cara do Adonnes. Ele estava parado, olhando para os lados da rua. Ele me avistou e acenou. Era ele. Ele correu ao meu encontro. Nos olhamos. Olhares de saudade. Nos abraçamos. Ele ficou de joelhos e pediu mais uma vez:
-Perdão. Eu sou um idiota.
- Levanta Adonnes! Pagação de mico!
- Você está linda.
-Obrigada! Quando voltou?
- Hoje mesmo, soube do baile da escola, acho que vou aparecer por lá.
-Por que só chegou hoje?
- Terminei os meus estudos na outra cidade, mesmo. Já tive minha colação de grau e formatura.
- Hum. Que bom.
- E como anda as coisas, Andressa?
- Está tudo bem? E você?
- Vai ficar bem... Já tem par para a formatura?
- Ainda não. Mas não quero ir com você!
- Eu também não iria te levar!
Sorrimos. Conversamos muito durante nossa trajetória até nossas casas. Ele não mudou muita coisa. Ele está mais calmo e parecia mais feliz. Fiquei contente com isso. Fui a casa dele, falei com a mãe dele e desejei boa sorte nesta nova fase da vida, ela agradeceu. Fui pra casa.
Mesmo se o Arthur não me chamar para ir ao baile, eu iria mesmo assim, sozinha. É um evento único que eu não poderia perder. Quando estava me ajeitando no meu quarto, ouvi um violão tocando na rua e a voz de Arthur entrando pela janela. Uma serenata. Ai, minha Nossa Senhora. Que romântico!
Ele estava cantando a música "Save me" da banda Hanson. Eu adorava aquela música. Corri para a janela e o vi. Ele estava de smoking preto, com um violão dedilhando as notas e cantando pra mim. Sua voz era linda. Não que ele seja um ótimo cantor, mas naquele momento, ele era o meu ótimo cantor. Meu coração respondeu a uma pergunta que eu fazia a ele há alguns dias.
Eu estou apaixonada?
Sim, você está. E este, ao que tudo indica, é o homem da sua vida.
Desci às pressas as escadas. Saí pelo portão e joguei-me em seus braços. O olhei com carinho e segurei sua mão. Ele parou de cantar, me olhou com doçura. Aqueles olhos verdes adentraram na minha alma como um ladrão adentra sorrateiramente em uma casa. Aquele olhar me conquistou. Vizinhos curiosos a parte, Arthur me perguntou:
 - Quer ir ao baile comigo?
- Sim.
A maioria de nós sente que os outros não vão tolerar tamanha honestidade emocional na comunicação. Preferimos defender nossa desonestidade alegando que isso poderia ferir as pessoas, e, tendo racionalizado nossa falsidade através da nobreza, iniciamos relacionamentos superficiais. O Adonnes possuía tal atitude, mas ele já está mudando, graças a Deus.
Depois da colação de grau chegou o momento que todos esperavam. O baile! Estava lindo! Todos estavam felizes! Não sei se o Filipe e a Kátia estavam, pois estavam discutindo como crianças perto da mesa de frios. Que babacas. Nem olhavam mais na minha cara, to nem azul.
Adonnes apareceu no baile com sua prima. Olhou-me de longe e acenou. Ele estava bonito, claro! E estava feliz. Espero que ele continue assim. Esta fase de transformações na sua vida será muito difícil, ele irá cair muitas vezes, pensará em desistir, mas eu estarei ao seu lado, ajudando-o, e rezando para que Deus o guie nesta empreitada.
Athena sorria para as paredes. Samanta estava gargalhando com o seu esportista bonitão. As duas usavam vestidos de gala lindos! O de Athena era de um azul turquesa bem discreto, que combinava com seu cabelo de mechas azuladas e com a sua pele morena. O vestido de Samantha era de um rosa claro extravagante, rodado, parecia roupa de boneca. Ela parecia uma Barbie! Já o meu, era amarelado, com um belo laço no peito e nas costas, de caimento reto que ia até meu tornozelo.
A noite estava perfeita.
Antes da dança principal, fui tomar um licor de chocolate na mesa de bebidas, quando estava prestes a beber, Adonnes se aproximou, encheu sua taça e me ofereceu um brinde:
- À nossa Amizade.
- À nossa. -e continuei- À sua luta contra o pecado.
- Amém.
Brindamos.
Os seus olhos cor de mel brilhavam. Os meus também. Depois de tanta confusão e de escolhas erradas, estávamos nós dois, ali, vitoriosos. Conseguimos driblar nossos problemas, nossas diferenças, nossa imaturidade.
- Estamos amadurecendo, Andressa?
- Estamos sim. E continuaremos a amadurecer pelo resto de nossas vidas.
- E isso é bom?
- Claro que é, afinal, a vida é cheia de surpresas. E a cada batalha vencida nós ganharemos mais experiência nesta trajetória que é viver. Mais maturidade.
 Custa tanto ser uma pessoa plena, que muito poucos são aqueles que têm luz ou a coragem de pagar o preço... É preciso abandonar por completo a busca de segurança e correr o risco de viver com os dois braços. É preciso abraçar o mundo como um amante. É preciso aceitar a dor como condição da existência. É preciso cortejar a dúvida e a escuridão como preços do conhecimento. É preciso ter uma vontade obstinada no conflito, mas também uma capacidade de aceitação total de cada consequência do viver e do morrer.
Nós precisamos viver o cada dia. Nós precisamos aceitar as nossas dificuldades e lutar contra elas. Nós precisamos saber saborear a aurora como um milagre de Deus. Nós precisamos viver um dia de cada vez.
O salão foi invadido por uma música, meio melancólica, mas eu achava aquela música super linda. "Innocence" de Avril Lavigne. Eu sabia a tradução, e naquele instante eu estava me sentindo assim, pois:
Essa inocência é brilhante
Eu espero que isso permaneça
Esse momento é perfeito
Por favor, não vá embora
Eu preciso de você agora
E eu vou me prender a esse momento
Não o deixe passar. 
Quase comecei a chorar. Eu estava ali, me formando! Acabou a encheção de saco dos professores, a pressão para tirar notas boas, o acordar cedo... Ou talvez não.  Meu professor de português sempre falava que depois do ensino médio, enfrentaríamos a selva! E que diploma de segundo grau não serve mais pra nada, nem pra dependurar na parede da sala de estar. É... Ele falava desse jeito. Hahaha.
E é sério. A concorrência será grande. Faculdade, mercado de trabalho... Afs! Acho que eu vou tirar um ano de férias antes de começar a pensar nisso tudo, afinal, eu mereço!
Arthur se aproximou de mim. Pegou minha mão e a beijou. Então, finalmente ele fez a pergunta que eu esperava:
- A dama aceitaria namorar com este nobre cavalheiro?
- Não sei o que dizer...
- Diga sim.
- Tô brincando! Sim!
E finalmente nos beijamos. Um beijo doce. Um beijo de um príncipe.
Apresentei Arthur para Adonnes. Eu esperava ciúmes de ambos. Mas os dois deram um aperto de mão forte e se cumprimentaram como verdadeiros homens.
- Cuida bem dela Arthur. Estarei sempre por perto. - disse Adonnes.
- Pode deixar Adonnes. Cuidarei. Espero que sejamos bons amigos.
- Idem.
Foi anunciada a música principal. Dançaríamos estilo valsa. Era uma música linda, apenas no instrumental, com um belo arranjo, lento e apaixonante. Arthur me levou até o meio do salão, Athena correu para perto de nós com sua paquera, Samanta ficou um pouco distante e Adonnes com sua prima ficaram longe do centro, mas dançariam também.
A música começou a tocar.
Naquele instante, só existia aquele momento em minha vida, em minha juventude, em meu peito.
Arthur me cochichou no ouvido:
- Prometo que serei o melhor namorado da sua vida. Irei te respeitar, cuidar e amar você. Entenderei sua liberdade e espero que você entenda a minha.
Aprendi que não posso exigir o amor de ninguém... Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim... E ter paciência para que a vida faça o resto...
- Eu prometo que tentarei ser a melhor namorada da sua vida. Irei te respeitar, ser protegida e amada por você. Entenderei sua liberdade e que entenda a minha também.
Sorrimos. Encostei minha cabeça em seu peito e continuamos nossa valsa romântica. Ele me conduzia tão bem que eu me sentia como se estivesse flutuando.
Em relação ao futuro? Prefiro não saber. Se nosso relacionamento dará certo? Não sei. Se Eros Arthur também for um taradão do armário? Espero que não! O que importa é que nós traçaremos nossos destinos, com cada escolha que iremos tomar.
E o futuro está nas mãos de Deus.
Na luz dos teus olhos eu me encontrei
Nos teus braços fortes posso descansar
Eu não acredito que o amor eu achei
Perdido no meio de um infinito lugar...
O meu coração.
FIM!
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