quinta-feira, 3 de maio de 2012

O guardião

Mais um texto meu, cuja moral é mostrar que todos nós viemos do pó, e para ele voltaremos.

O guardião

O dia chegou sem o menor ruído.

O vento forte batia na casa, como quem tenta impor uma força, ou se mostrar melhor, onipotente.
 Os viajantes já estavam ali, naquele lugar esquecido pelo tempo.
A mobília velha, a poeira e até mesmo as ruínas, que deveriam lembrar fatos do passado, só mostravam que o futuro havia chegado, e este não fora tão justo com aquela residência de mais de um século, escondida no alto de uma montanha aonde as pessoas raramente iam.
 Eles entraram por entre os cômodos onde uma família já morara, mas onde agora só viviam aranhas e alguns outros animais que em nada combinavam com o ambiente.
A cozinha, no estilo colonial, que outrora fora arejada, agora era tomada pelo mato que entrava pela janela e crescia pelo chão onde não existia mais nada além de terra. Na sala ampla, do sofá só existia a madeira, tomada de cupins.
Mas foi o quarto o que surpreendeu a todos. Deitado na cama, ou no que sobrara dela, um gato negro dormia tranquilamente, mas acordou com a entrada dos outros, e, esquivo, miou alto, talvez tentando demonstrar que o lugar já tinha um dono.
Quando os visitantes tentaram se aproximar, ele mostrou as unhas e os dentes, fazendo-os partir. Não por medo, pois era apenas um gato, mas por respeito àquele animal que se mostrava guardião do lugar.
E os dias se passaram, e os viajantes não suspeitaram, e nem mesmo outros viajantes o fariam, que aquele gato negro era marcado pelo tempo, e há um século guardava aquele lugar, e por mais um século permaneceria nas ruínas, guardando o pó, de onde viemos, e para onde voltaremos.
Kaio Rodrigues

0 comentários:

Postar um comentário

Template by:

Free Blog Templates